terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Instantâneo.


  Mania feia de estar feliz e pensar que logo aquilo acaba.
Um conformismo chato, o tal do pessimismo nato. Mas dessa vez me convenci que seria diferente.
Ilusão boba.
Dizem que alegria de pobre dura pouco. 
Dura muito menos.

sábado, 27 de novembro de 2010

Necessidade.

"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando de minha própria força. Sou forte mas também destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha.Venha antes que seja tarde demais."


Clarice Lispector

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ela... confusa.



Ela expirou profundamente. Um genuíno e singelo sinal de cansaço. Mas dessa vez, não aquele cansaço que sentia toda manhã ao caminhar contra ao vento, quando sentia seu corpo sendo empurrado na direção contrária. Era um cansaço da alma, da mente, do coração.
Fechou os olhos, passou a mão pelos cabelos, seus dedos ficaram presos. Sua vida estava tão embolada quanto seu cabelo, pensou. Era necessário parar, desembaraçar tudo, ou cada vez que seus dedos passeassem pelos seus cabelos sentiria dor outra vez.
Expirou novamente. Não entendia porque sempre deixava tudo pra depois. Essa tendência natural humana à procrastinação a cansava. Aliás, o que não a cansava ultimamente? Procurou em sua mente de maneira superficial, e ainda assim fora difícil encontrar uma resposta satisfatória. Então era isso; se sentia exausta, embaraçada, procrastinada. De novo.
Percebeu então que ultimamente sua vida se tornara chata, rotineira. Tudo era tão (im) previsível que enojava. Agora feliz, porém logo triste... logo sozinha. E assim ia levando, se acostumando. Uma hora rindo, outra chorando, outra esperneando. Não se entendia. Era a bagunça em pessoa. Repleta de nós, tal como seu cabelo emaranhado, cada vez que algo tentava passar por ela, causava dor.
Talvez tivesse alguma tendência a afastar tudo que pudesse trazer dor, observou. Talvez fosse tão covarde ao ponto de fugir em vez de desfazer tanto nó em sua cabeça – literalmente ou não. Talvez acreditasse que para abandonar algo, também é necessário ter coragem.
Se confundiu. Submergiu. Dentro de toda sua confusão, dentro dela mesma.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Férias.


Há algum tempo meu corpo e minha mente indicavam que era necessário uma pausa, antes que tudo entrasse em colapso (pela milésima vez...). Mas, já é praticamente final de ano, dá pra esperar mais um pouquinho. Agora deu pra entender que nunca dá. Deu pra entender que é realmente necessário ouvir a mente, o corpo, o coração. Por muito tempo eu tampei os ouvidos e continuei caminhando sem olhar pros lados. Pode ser bonito de ler, mas não é nada bonito quando seu corpo te faz parar não por bem, mas por mal.
E cá estou, em cima de uma cama, falando pouco, comendo - engolindo - tudo que é necessário. E o necessário nunca é bom.
Mas como toda reposição de baterias, há seu lado bom. É bom reencontrar valores perdidos, valores que na correria parecem tão pouco. Sem opção, me conformo em procurar o lado bom disso tudo.
Até do que me faz chorar, sangrar, dormir pra não lembrar. Até o lado bom do que dói. Literal ou metaforicamente falando.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pensando em você na aula de gramática.

O nosso pretérito é (mais-que) imperfeito. Nossos erros são presentes, nossa felicidade é um pretérito que se prolonga até um futuro (in)certo. Nosso modo é o indicativo.
Do amor.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Me peguei pensando em você. Gradativamente. Desde quando você era um simples desconhecido até o momento em que você passou a ser aquele que seria o pai dos meus filhos. A partir de então, lembranças, pensamentos, sentimentos me inundaram... E o sono se foi, pela mesma porta que você. Por que quanto mais a gente não quer pensar, mais a gente a pensa? Acho que nunca tive tanta certeza de que a vida é uma perfeita antítese. Quando devemos esquecer, lembramos. Quando devemos nos calar, falamos.
Quando devemos amar, expulsamos.
Te expulsei da minha vida, sem pensar no depois. Sem pensar em como seria sem você, com seus jeitos e trejeitos, chatices tão insuportáveis, sem sua exclusiva capacidade de me fazer feliz. Te expulsei não porque quis, nem ao menos percebi. Te expulsei talvez por seu único defeito ser a perfeição. Te expulsei talvez por ser uma perfeita mentirosa e por saber fingir que sei viver sem você. Não, eu não sei. Aprendi a te amar, mas desaprendi a viver a vida sem você. E na verdade, nunca tive interesse em desaprender. E nem agora, que preciso aprender, consigo me desprender de você e de tudo que costumávamos ser.
Parece estupidez expulsar alguém da minha vida, quando fica claro que esse mesmo alguém é a minha vida. Mas mais estúpido que isso, é essa maneira boba de defender o sentimento mais lindo que trago no peito, abrindo mão de você, já que não posso mais te fazer feliz. Não como você merece. Tudo seria mais fácil se ao invés de te permitir viver, eu aprendesse a viver mais uma vez e finalmente me libertasse de todas as correntes que me prendem. O que eu chamo de crise chegou afinal. Entramos em crise, porque as minhas forças acabaram e eu não tenho mais como lutar por nós. Ou por mim, ao menos.
Sinto sua falta. Sinto falta de nós. E ainda que eu tente, não encontro respostas. Ontem, a perfeição batia à porta e hoje, tudo que vejo é um fim repentino e inexplicável. Ou talvez a explicação esteja mais clara que nunca - talvez eu não tenha sido feita para amar, por mais cruel que isso possa parecer
.

domingo, 12 de setembro de 2010

12.06.2010 ♥


 Bom mesmo é perceber, pela milésima vez, que eu acertei no alvo quando escolhi você.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Vazia.


"Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços meu pecado de pensar."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

The Flower Is Sad.

The Flower Is Sad by Fallenangel94
E o que é que a gente faz com esse aperto no peito, com essa saudade do que não foi vivido, com esse remorso que não é nosso, com esse coração na mão? E como é que a gente lida com esse jeito estranho de amar, com essa piedade do mundo, com essa piedade de mim?